O setor de planos de saúde médico-hospitalares no Brasil registrou lucro líquido recorde de R$ 6,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025 — mais que o dobro do resultado obtido no mesmo período de 2024 (R$ 3,1 bilhões). Os dados, divulgados na terça-feira (3) pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), apontam para o maior lucro trimestral da série histórica iniciada em 2018.
O desempenho operacional também bateu recorde: saldo positivo de R$ 4,4 bilhões entre receitas e despesas assistenciais, sinalizando, segundo a ANS, uma consolidação da recuperação financeira do setor após anos de instabilidade. “Esse desempenho reflete não apenas uma recomposição de receitas, mas também um equilíbrio nas despesas assistenciais”, afirmou Jorge Aquino, diretor da agência.
Se considerados também os planos odontológicos e as administradoras de benefícios, o lucro total do setor chega a R$ 7,1 bilhões no trimestre — alta de 114% em relação ao ano anterior.
Entidades do consumidor apontam práticas abusivas dos planos de saúde
Apesar da euforia financeira das operadoras, entidades de defesa do consumidor e representantes jurídicos criticam o setor por práticas consideradas abusivas.
Marina Paullelli, do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores), ressalta que os ganhos registrados desmontam o argumento de que os reajustes elevados e os cancelamentos de planos seriam medidas para garantir sustentabilidade. “Os supostos riscos econômicos não se confirmam”, afirmou à reportagem da Folha de S.Paulo.
A OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil, subseção São Paulo) também se posicionou com “profunda preocupação” quanto ao descumprimento de decisões judiciais por parte de operadoras. A entidade acusa empresas de tratarem multas como custos operacionais, optando por não cumprir determinações de cobertura de tratamentos e medicamentos.
Margem de lucro modesta?
Por outro lado, a FenaSaúde, entidade que representa as operadoras, reconhece o bom desempenho, mas alerta que a margem de lucro no trimestre, de 8,6%, ainda é modesta se comparada a outros setores regulados, como energia (14,87%) e saneamento (16,2%). A federação destaca que o retorno sobre o patrimônio (ROE) do setor foi de 10,1% — inferior ao de segmentos como mineração (24,48%).
Segundo a FenaSaúde, o bom resultado reflete esforços de gestão como controle de custos, combate a fraudes e renegociação de contratos. Ainda assim, os custos com judicialização seguem elevados, representando 10% do lucro líquido do setor no trimestre.